Neste mês, vamos refletir sobre a Liturgia! Ela, em todas as suas manifestações, é de fundamental importância para a vida da Igreja e de uma comunidade paroquial. Toda a vida de uma paróquia gravita em torno da liturgia: nela encontramos a fonte de nosso ser mais profundo e para ela sempre nos encaminhamos. Tomamos como inspiração um texto do então cardeal Ratzinger sobre a liturgia, nele se afirmava com muita clarividência: a liturgia não é um espetáculo, não é um show que necessite de maestros geniais ou atores talentosos.
A liturgia não vive de simpáticas “surpresas”, de achados cativantes, mas a liturgia necessita da repetição solene e sóbria. As repetições são indispensáveis para que a liturgia nos prepare como uma gota d’água que cai numa pedra e que, ao longo dos séculos de história da salvação, penetre na experiência, como a fonte que escava os cânions.
A liturgia não entra na dinâmica do entretenimento! Não se vem à igreja para se divertir com este ou aquele! Mas, entramos no espaço sagrado de Deus onde sou um convidado especial. Como diz o cardeal Danneels, “eu entro na liturgia, não posso criá-la”. A criatividade na liturgia é como na música, uma variação sobre um tema imposto: o tema me é dado, não parte de mim mesmo. A liturgia, continua o venerável cardeal, é uma arquitetura inspirada na Bíblia e na Tradição, e assumida pela Igreja, esposa de Cristo. É preciso, por isso, considerá-la como algo grandioso para o qual estou a serviço e não um instrumento, objeto de modificações.
Isso se deve ao fato de que, na liturgia opera uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira poderia conferir-se: o que se manifesta na liturgia é o absolutamente Outro, que através da comunidade (que não é dona, mas serva da liturgia) chega até nós.
Para nós católicos, a liturgia é pátria comum, é a fonte de nossa identidade: por isso mesmo ela deve ser “imperturbável”. Ao adentrá-la, nos dirigimos a Deus para acolhê-Lo. Ela é feita essencialmente ouvindo, acolhendo e obedecendo. Ela não é uma palavra humana, mas uma resposta humana à Palavra de Deus. Quando o caminho é contrário, ou seja, quando transformamos a liturgia em palavra humana, quando a sujeitamos à nossa vontade, corremos o grande risco de banalizá-la, e de adequá-la às nossas medíocres medidas.
Por tudo isso, é de suma importância pensarmos o modo como nos acostamos da Santa Liturgia. De como rezamos, de como participamos da Santa Missa e até mesmo as expectativas que criamos ao nos dirigirmos a uma igreja para tomarmos parte em uma ação litúrgica. Uma vida espiritual sólida e uma pastoral robusta necessitam de uma consciência litúrgica sadia. Para que sejamos católicos verdadeiros não podemos desconsiderar que a liturgia é fonte e cume de nossa vida cristã e que, portanto, dela não podemos escapar. A liturgia é, segundo o cardeal Danneels, um parque, uma reserva natural onde se protegem as dimensões mais delicadas e mais ameaçadas da existência.
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