Inspirado em um estudo de Nico Dal Molin
No mês de janeiro, celebramos a festa da conversão de São Paulo e gostaríamos de refletir sobre a importância de São Paulo como “guia espiritual”. O pensamento de São Paulo marcou, significativamente, o desenvolvimento da Igreja primitiva, incidindo profundamente, não somente no contexto das comunidades de seu tempo, como também nas sucessivas gerações de cristãos.
Com todo direito, pode-se afirmar que São Paulo foi, e continua a ser, um “mestre” da vida espiritual, um “formador de corações e da vida”.
“Até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4,19) é uma expressão que Paulo utiliza para exprimir a meta para a qual tende a sua obra de evangelização e formação, junto à Comunidade dos Gálatas. Uma leitura sapiencial e espiritual nos faz perceber a intensidade e a riqueza que nos dá a imagem da frase apaixonante de Paulo: “meus filhos, por quem de novo eu sofro as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós”. (Gl 4,19)
O guia espiritual para Paulo é um homem que vive a paternidade no Espírito. É alguém que forma. E “formar em Cristo” é um trabalho profundo que não significa somente dar uma semelhança com Cristo, em sua exterioridade, mas operar profundamente no ser e agir. E, nesta ótica, Paulo age sobre aqueles que escutaram o anúncio do Evangelho, a fim de reformar-lhes em Cristo, mediante a obra do Espírito Santo.
Paulo torna-se modelo emblemático de pai espiritual, feito tal, através da fecunda palavra de Deus, que ele acolheu em si, como semente e fonte de vida.
Existem traços que são marcantes na paternidade paulina. Poderíamos pontuar:
– Paulo apresenta-se com a autoridade de Apóstolo, chamado a este ministério pelo próprio Cristo.
– Manifesta-se, porém, em toda a sua fraqueza (Gl 4,13), homem entre os homens (Gl 4,12).
– Confessa-se totalmente conquistado por Cristo, apaixonado e disposto a tudo por Ele e por Seu Evangelho, e O testemunha com a própria vida.
– Impõe-se, enfim, como norma concreta de conduta e exemplo de vida madura em Cristo.
O con-formar-se em Cristo, em virtude do batismo, enxerta na frágil vida humana um princípio de vida superior, que a transforma. Assim, a existência não é mais fundada sobre o homem natural, mas sobre a vida de Cristo. Os filhos espirituais devem traduzir, espontaneamente, o seu afeto, imitando o Pai na fé, que com adesão filial a Cristo poderão superar as próprias fraquezas.
O caminho de Paulo é o caminho de todos os guias espirituais: desde o ventre materno, Paulo se sente amado, pensado, procurado e escolhido por Deus. Tudo tem origem na iniciativa gratuita de Deus.
Em seu projeto de amor, Deus revela a Paulo o seu Filho para que fosse anunciado aos pagãos (Gl 1,15-17). No encontro com nosso Senhor, na estrada de Damasco, Paulo descobre a sua vocação e missão, o maravilhoso plano salvífico do Pai que abraça a humanidade inteira.
O Apóstolo confessa, antes de tudo, a graça e a soberania do amor de Deus. Isso ficou evidenciado no fato de que “enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8).
É habitual para o Apóstolo começar as suas cartas com o louvor e o agradecimento. Para Paulo, a ação de Deus, a iniciativa da sua graça e a sua imensa misericórdia estão sempre em primeiro lugar. Seu ânimo é constantemente habitado por sentimentos de gratidão, como mostram o início de suas cartas (cf. 1Ts 1,2-3; 1Cor 1,4-5; Fl 1,3).
Em Paulo, é constante a primazia da graça e, portanto, o louvor e a bênção. Enfim, o amor de Deus é a alma e o respiro, a lei e o perfume da vida cristã. (cf. Rm 5,5; Gl 4,6).
foto: Cathopic.com
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