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A vida espiritual (Parte 2)

Continuamos nossa reflexão sobre a vida espiritual, dada a importância desta temática para nossa vida cristã. Na última reflexão falávamos sobre a realidade que a vida espiritual é, em palavras simples, a experiência de nos sentirmos filhos no Filho. Hoje, queremos acrescentar à esta reflexão um dado de fundamental importância: a presença do Espírito Santo na experiência espiritual. O Espírito Santo é a luz com a qual Deus antecipa-se e nos orienta em nosso caminho rumo à santificação, caminho que é sequela (seguimento) do Filho: a experiência espiritual nada mais é que a resposta de fé, esperança e caridade ao Deus que no batismo dirige ao homem uma palavra que é constitutiva, essencial: “tu és o meu filho” (Lc 3,22). Sim, filhos no Filho Jesus Cristo: esta é a promessa e este é o caminho que nos é aberto no dia do nosso batismo. Santo Irineu de Lyon afirma que o Espírito e o Filho são como duas mãos de Deus, e com estas mãos Ele plasma a nossa existência em vida de liberdade, e, na obediência em eventos de relação e comunhão, com Ele e com os outros, nossos irmãos. Alguns elementos são essenciais para a autenticidade do caminho espiritual: i) a crise da imagem que temos de nós mesmos, ou seja, aquela que foi gerada pela dor no início do caminho de conversão, o momento em que se despedaça o “eu” não real, aquele ideal que forjamos e queríamos perseguir como se fosse uma verdadeira realização de nós mesmos. Sem a crise, gerada pela ruptura com este eu ideal, não se chega a uma verdadeira vida segundo o Espírito. Se não acontecer esta morte “de si mesmo” não acontecerá o renascimento para a vida nova implicada no batismo (cf. Rm 6,4); ii) Uma espécie de honestidade para com a realidade e fidelidade a ela, isto é, uma adesão à realidade, porque é na história e no cotidiano, com os outros, e jamais sem eles, que acontece o nosso conhecimento de Deus e cresce a nossa relação com Ele. É ponto em que a nossa vida espiritual harmoniza obediência à Deus e fidelidade à vida na fé, esperança e caridade. Neste ponto podemos dizer a Deus o nosso “sim” que nos chama com aqueles dons e aqueles limites que caracterizam a nossa “criaturalidade”. É, portanto, o imergir-se em um caminho de fé que é sequela (seguimento) de Cristo para chegar àquela experiência da inabitação de Cristo em nós: “quem permanece em mim, e eu Nele, produz muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer (Jo 15,5). E Paulo escreve aos cristãos de Corinto: “fazei uma autocrítica. Verificai se estais na fé. Examinai a vós próprios. Reconheceis que Jesus Cristo habita em vós?”(II Cor 13,5). A vida espiritual se desenvolve no coração, no íntimo do homem, na sede da vontade e da decisão, enfim, na interioridade. É ali que se reconhece a autenticidade do nosso ser cristão. A vida cristã não é um “ir além”, sempre à procura de novidade, mas um “andar em profundidade”, um descer ao coração para descobrir ali o Santo dos Santos daquele templo de Deus que é o nosso corpo! Trata-se, de fato, de adorar o Senhor no coração (cf. I Pd 3,15). Aquele é o lugar onde acontece a nossa santificação, isto é, a acolhida em nós da vida da Trindade: “se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará e nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada” (Jo 14, 23). Afinal, o fim último da vida espiritual é a nossa participação na vida divina, o que os Padres da Igreja chamavam “divinização”. “Deus, de fato, se fez homem para que o homem se fizesse Deus”, escreve são Gregório de Nazianzo. Em síntese, a vida espiritual é aquela radicada na fé, no Deus Pai criador, movida e orientada pelo Espírito santificador e introduzida no Filho redentor que nos ensina a amar como ele mesmo nos amou. Aqui está a medida do nosso crescimento rumo à estatura de Cristo.

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